Não são raras as vezes em que recebemos um presente cujo embrulho é bem mais agradável que o seu conteúdo. O mesmo se pode dizer do documentário sobre António de Oliveira Salazar transmitido esta terça-feira, 13, pela RTP no âmbito da série de biografias sobre os 10 candidatos à vitória final no programa “Os Grandes Portugueses”.
Sobriamente apresentado pelo professor universitário Jaime Nogueira Pinto, foi-nos desenhado o retrato de um homem austero e honesto, íntegro e probo.
O retrato de um homem que acreditava piamente ser sucessor de D. Afonso Henriques ou D. João II.
O retrato de um homem que recuperou as finanças portuguesas e legitimou o poder do Estado.
O retrato de um homem que conservou a soberania lusa aquém e além fronteiras e lançou o país na senda das grandes obras públicas.
O embrulho foi sem dúvida muito bonito, mas exageradamente demagógico quando sobre um homem que durante quase quatro décadas amordaçou o povo português, instalou o medo nas ruas e lançou à morte numa terra desconhecida milhares de jovens.
Desconheço os critérios de avaliação e selecção destes 10 “Grandes Portugueses” e ignoro o que leva a população a votar em Salazar.
Mas tenho a certeza que ele jamais poderá ser a maior figura da História de Portugal.
Carlos Pinto