
Dia 22 de Janeiro fez três anos que Cavaco Silva foi eleito Presidente da República. Depois de um período inicial do mandato em que manteve uma forte proximidade com o Governo, os últimos tempos têm sido pródigos em episódios que revelam alguma divergência e, por isso, há um “arrefecimento” natural na apregoada cooperação estratégica.Pessoalmente, consideramos que a figura do Presidente da República, seja Cavaco ou outro qualquer, nos termos em que está definida pela Constituição é absolutamente desnecessária e sem qualquer relevância. Apesar de ser detentor da “bomba atómica”, a figura exacerbada com que alguns catalogam o poder de dissolver a Assembleia da República, ao Chefe de Estado cabe uma alargada magistratura de influências e a promulgação daquilo que o Parlamento aprova, além da representatividade do Estado.E nestes três anos, que fez Cavaco? Sinceramente, não mudou o quadro e teve a particularidade de, num ou noutro processo, se ter excedido numa postura em “bicos de pés” para tentar comprovar influência. E há três situações que mostram bem as suas debilidades: o episódio do Estatuto dos Açores, apesar da legitimidade dos seus argumentos, foi estendido até ao limite contra a quase unanimidade do Parlamento. O não afastamento de Dias Loureiro do Conselho de Estado revela uma falta de coragem política preocupante. O permanente esquecimento das lacunas provocadas pelos 10 anos em que foi primeiro-ministro demonstra alguma falta de verticalidade política.Portanto, Cavaco Silva não tem sido mais do mesmo em Belém. Tem sido pior e isso, a nosso ver, ajuda a enfraquecer a figura do Presidente da República. Esperemos que, ao longo deste dificílimo 2009, cheio de eleições e tantos interesses díspares, Cavaco Silva não caia na tentação de preparar caminhos para a sua “casa” política e, desse modo, enfraquecer ainda mais a sua prestação. Ao Presidente, em tempo de grave crise económica e presumível instabilidade social, pede-se que seja guardião do equilíbrio e da sensatez. E que tenha a alta responsabilidade política que o cargo lhe exige e o país precisa.
AJB
AJB